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O sexo sempre foi cercado de tabus, mas também de banalização. Vivemos em uma cultura onde o desejo é frequentemente reduzido a mero prazer físico ou a uma mercadoria de consumo. No entanto, a filosofia – especialmente na leitura de Roger Scruton – nos mostra que o sexo é um dos temas mais profundos e desafiadores da reflexão moral.

Sexo como tema da filosofia

A questão central é simples e poderosa: por que o sexo importa eticamente? Se nossos comportamentos são objeto da moralidade, é natural que o que fazemos com nossos corpos – e com os corpos de outros – também o seja. Sexo não é apenas um ato privado: é uma interação que envolve duas (ou mais) vontades, consciências e intencionalidades. Por isso, é inevitável que a filosofia trate do sexo.

Roger Scruton argumenta que o desejo sexual está no limiar entre o animal e o pessoal. Existe o instinto, mas também existe a escolha. Existe o impulso biológico, mas também o envolvimento existencial. O sexo é um encontro de consciências, não apenas de corpos.

Liberdade, responsabilidade e sexo

A reflexão sobre o sexo está intimamente ligada à liberdade. Como vimos nos capítulos anteriores da obra de Scruton, sem liberdade não há moralidade. E o sexo é, justamente, um dos maiores testes para qualquer teoria moral: ele envolve desejo, vulnerabilidade, consentimento e responsabilidade.

Aqui entra um ponto crucial: a intencionalidade. Não é o mesmo entregar-se ao desejo com amor e compromisso ou objetificar o outro como mero instrumento de prazer. O desejo sexual autêntico, segundo Scruton, visa a união com o outro como pessoa singular, não como objeto descartável.

A ilusão cientificista sobre o sexo

Boa parte da modernidade tentou tratar o sexo sob o prisma da “ciência sexual” ou da sexologia. Quantificar desejo, metrificar parceiros, reduzir relações humanas a trocas funcionais de prazer tornou-se comum. Scruton denuncia essa visão como uma perversão da verdadeira natureza do sexo.

Na visão cientificista, pessoas são tratadas como objetos intercambiáveis: tanto faz se o parceiro é fulano ou sicrano, ou até mesmo uma boneca ou um pedaço de plástico. Desaparece o caráter pessoal e único do outro. É o colapso da dimensão moral e transcendental do sexo.

Sexo, filosofia e a educação das virtudes

A chave para compreender o sexo como ato moral está, segundo Scruton, na tradição aristotélica das virtudes. Não se trata apenas de obedecer regras formais (como faria Kant), mas de formar o caráter para escolher, livremente, o bem.

O sexo exige educação moral: para o pudor, para o respeito, para o compromisso, para o amor autêntico. Sem a educação das virtudes, o sexo se degrada em vício, promiscuidade e alienação.

A revolução sexual e a queda na barbárie

Scruton vai além: a liberação sexual moderna – ao tentar abolir todos os tabus e proibições – não libertou o desejo, mas destruiu sua dimensão humana mais profunda. Ao transformar o sexo em puro prazer, desfez-se o seu caráter de entrega, compromisso e transcendência.

A verdadeira liberdade sexual não está na permissividade absoluta, mas na responsabilidade mútua, no respeito à dignidade do outro e na capacidade de vincular o desejo às exigências morais da pessoa humana.

Conclusão: O sexo revela quem somos

O sexo é um espelho da condição humana. Ali, se encontram liberdade, desejo, moralidade e transcendência. É por isso que nenhuma filosofia pode ignorar o tema – e é por isso que Roger Scruton dedicou um capítulo inteiro a ele em seu livro Guia de Filosofia para Pessoas Inteligentes,.

A modernidade, ao negar essa profundidade, colhe as consequências: solidão, objetificação, vício e degradação. Recuperar a dimensão filosófica do sexo é, em última instância, um caminho para resgatar o humano em nós.

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