O que é o tempo? Essa pergunta, que parece simples à primeira vista, esconde um dos dilemas mais profundos da filosofia.
No capítulo 6 do livro Guia de Filosofia para Pessoas Inteligentes, Roger Scruton conduz o leitor por esse labirinto conceitual com a precisão de quem sabe que a filosofia, quando levada a sério, mexe com as estruturas mais básicas da nossa consciência.
Esta aula do curso “A Arte de Pensar Filosoficamente” mergulha nesse tema complexo — e inevitável.
O tempo realmente existe?
Aristóteles já havia captado esse dilema: o passado não existe mais, o futuro ainda não existe e o presente se esvai no exato instante em que o pronunciamos. Diante disso, a pergunta “o tempo existe?” não é um devaneio: é uma inquietação legítima da razão humana.
Muitos de nós pensamos o tempo com base na física — na velocidade da luz, na dilatação temporal de Einstein, na medição de reações químicas.
Mas Scruton nos convida a outro tipo de reflexão: e se o tempo, tal como o percebemos, for apenas uma construção subjetiva? Um pano de fundo mental que usamos para organizar a sucessão dos acontecimentos?
Essa é uma perspectiva que nos empurra para uma conclusão desconcertante: talvez o tempo, como algo objetivo, não exista.
Filosofia ou ficção científica?
A popularidade dos filmes de viagem no tempo mostra o fascínio que temos pelo tema. Mas se é possível viajar ao passado, isso implicaria que o passado ainda existe em algum lugar — o que nos forçaria a admitir uma objetividade do tempo.
Scruton mostra que há duas grandes formas de encarar o tempo: como absoluto (Newton) ou como relativo (Einstein e além). A filosofia, contudo, lida com outra dimensão: o tempo vivido, sentido, memorizado — a duração, como diria Bergson.
O tempo e o problema do “eu”
Essa reflexão esbarra numa dificuldade profunda: como garantir que somos o mesmo “eu” de dez anos atrás? Ou que seremos os mesmos daqui a vinte?
Sem a concepção de uma alma imortal, essa continuidade do eu no tempo se torna, no mínimo, um mistério.
Filósofos como David Hume e Espinosa exploraram esse impasse com profundidade, cada um à sua maneira, e Scruton os convoca à conversa.
A filosofia dura — e dura no tempo
O filósofo francês Henri Bergson diferenciou tempo físico de duração. Enquanto o tempo físico pode ser medido em segundos e minutos, a duração é a experiência interna do tempo, carregada de sentido, memória e emoção. É isso que vivemos — e não o cronômetro.
Scruton nos lembra que essa distinção é útil, mas não resolve o problema. Afinal, continuamos existindo (ou achando que existimos) nesse fluxo que escapa entre os dedos.
Kant, Espinosa e a eternidade
Scruton apresenta duas abordagens contrastantes. Espinosa vê o tempo como uma manifestação da eternidade imanente. Já Kant considera o tempo como uma forma subjetiva de percepção, uma estrutura dada pela razão humana. Ambos oferecem soluções interessantes, mas parciais.
E então surge Platão, cuja visão de tempo como “imagem móvel da eternidade” influenciou todo o pensamento cristão posterior — de Santo Agostinho a Boécio. É essa concepção que, segundo Scruton, mais consola as almas inquietas.
Conclusão: pensar o tempo é pensar o eterno
Pensar filosoficamente sobre o tempo é mais do que especular sobre relógios ou buracos de minhoca. É perguntar se somos apenas poeira que passa ou se há algo em nós que permanece, que é eterno. Nesse sentido, a reflexão sobre o tempo é uma via régia para a metafísica, a teologia — e a esperança.
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