Nos últimos anos, poucas figuras despertaram tanto debate no cenário intelectual e político brasileiro quanto Olavo de Carvalho. Admirado por seus seguidores e fortemente criticado por seus detratores, seu legado levanta uma questão fundamental: Olavo de Carvalho pode ser considerado um filósofo?
Recentemente, essa discussão ganhou novo fôlego após um comentário do filósofo Luiz Felipe Pondé, que afirmou não considerar Olavo um filósofo, classificando-o mais como um “self-made intellectual”, ou seja, um intelectual autodidata, que construiu sua trajetória fora dos meios acadêmicos tradicionais.
Mas essa categorização faz justiça à complexidade da obra de Olavo de Carvalho? É o que vamos explorar neste artigo.
O que é um Filósofo?
Para determinar se Olavo de Carvalho pode ser considerado um filósofo, é necessário primeiro definir o que significa ser um filósofo. Tradicionalmente, a filosofia é uma disciplina que envolve reflexão profunda sobre questões fundamentais da existência, da ética, do conhecimento e da verdade. Para alguns, ser um filósofo requer títulos acadêmicos formais e produção acadêmica reconhecida. Para outros, basta ter um pensamento original, que contribua para a tradição filosófica e o debate intelectual.
Historicamente, muitos dos maiores filósofos da humanidade não seguiram o caminho acadêmico formal. Sócrates, por exemplo, não deixou escritos e seu legado nos chega por meio de Platão. Nietzsche, por sua vez, teve grande impacto na filosofia, mas sua obra estava fora dos moldes acadêmicos convencionais de sua época. Rousseau e Schopenhauer também se afastaram da academia. O mesmo pode ser dito de autores modernos, como Roger Scruton, que ainda que tivesse formação acadêmica, foi marginalizado por grande parte da academia.
Ou seja, a academia não detém o monopólio da filosofia. O pensamento filosófico pode emergir dentro ou fora dela, desde que atenda a certos critérios de rigor intelectual, argumentação sólida e contribuição para o debate filosófico.
Olavo de Carvalho e a Academia
Um dos principais argumentos contra a classificação de Olavo como filósofo é o fato de ele não ter uma carreira acadêmica formal. Pondé, por exemplo, enfatiza que Olavo não obteve títulos como mestrado ou doutorado e não teve uma trajetória universitária tradicional.
Contudo, isso por si só não pode ser um critério absoluto para excluir alguém da filosofia. Como já vimos, a história está repleta de grandes filósofos que não seguiram o percurso acadêmico. O problema real não é a ausência de diploma, mas sim a originalidade e profundidade do pensamento.
Nesse sentido, Olavo produziu reflexões filosóficas relevantes, especialmente sobre temas como lógica, metafísica, epistemologia e política. Seu curso de filosofia online, ministrado por décadas, influenciou muitos alunos e formou uma geração inteira de intelectuais e jornalistas. Seus livros, como O Jardim das Aflições e O Imbecil Coletivo, trazem reflexões filosóficas que, independentemente de serem aceitas ou rejeitadas, constituem uma contribuição intelectual legítima.
A Acusação de “Viés Ideológico”
Outro ponto levantado por Pondé para desqualificar Olavo como filósofo é o suposto viés ideológico. Ele argumenta que Olavo enxergava o mundo de forma “excessivamente ideológica”, o que comprometeria sua capacidade filosófica.
Essa crítica, no entanto, é problemática por dois motivos:
- Todos os filósofos possuem algum tipo de viés ou visão de mundo. Filósofos como Karl Marx, Jean-Paul Sartre, Michel Foucault e até mesmo Immanuel Kant tinham suas próprias ideologias e objetivos políticos. O que importa não é a neutralidade absoluta (que é impossível), mas sim a capacidade de argumentação e a coerência lógica do pensamento.
- As acusações contra Olavo variam dependendo do crítico. Em diferentes momentos, ele foi rotulado como ultraconservador, liberal, reacionário, americanista, católico tradicionalista e até mesmo islamofóbico. Isso mostra que seu pensamento não se encaixava em uma caixinha ideológica simples. Na verdade, sua obra demonstrava ecletismo e riqueza conceitual, com referências que iam de Aristóteles a Eric Voegelin, passando por Schopenhauer, Pascal e Ortega y Gasset.
A ideia de que Olavo de Carvalho era apenas um panfletário ideológico simplifica e distorce seu trabalho. Seu pensamento pode ter sido polêmico e combativo, mas isso não o torna menos filosófico.
O Papel de Olavo na Filosofia Brasileira
Independentemente de se concordar ou não com sua classificação como filósofo, é inegável que Olavo foi uma figura central no pensamento brasileiro contemporâneo. Ele introduziu no Brasil autores conservadores e liberais clássicos que eram negligenciados pela academia, ajudando a diversificar o debate intelectual no país.
Antes de Olavo, nomes como Eric Voegelin, Russell Kirk, Roger Scruton, Mario Ferreira dos Santos e Michael Oakeshott eram praticamente desconhecidos no Brasil. Ele também alertou para problemas na formação acadêmica, como a influência desproporcional do marxismo e a ausência de pluralidade no debate filosófico e político.
Além disso, sua postura combativa foi essencial para abrir espaço para novas vozes na cultura e na política brasileira. Como bem observou um dos entrevistados do podcast que analisamos, Olavo funcionou como um “navio quebra-gelo“, abrindo caminho para que outros intelectuais pudessem emergir e ganhar espaço no debate público.
Olavo de Carvalho é um Filósofo?
A resposta depende de como definimos um filósofo. Se adotarmos um critério puramente acadêmico e institucional, então Olavo pode não se encaixar nesse perfil. No entanto, se considerarmos a filosofia como um campo mais amplo, que inclui pensadores autodidatas, inovadores e críticos do status quo, então Olavo de Carvalho pode sim ser considerado um filósofo.
Sua obra, sua influência e sua capacidade de mobilizar debates filosóficos e políticos são evidências de que ele não foi um mero polemista ou “self-made intellectual”. Ele produziu reflexão original, usou a filosofia para analisar a realidade e influenciou gerações de leitores e alunos.
Assim, independentemente das opiniões pessoais sobre seu estilo, sua abordagem ou seu legado, a resposta mais honesta para a pergunta “Olavo de Carvalho é um filósofo?” parece ser: sim.
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